José Daniel Colaço

COLAÇO, José Daniel (1831, Tânger – 1907, Lisboa), barão de Colaço e Macnamara (1897), diplomata, escritor, arabista e pintor orientalista.

Fotografia, cerca de 1905
Fotografia, cerca de 1905

Oriundo de uma família de agentes diplomáticos portugueses, activos em Marrocos desde meados do século XVIII, seguiu a tradição familiar, sendo, em 1856, nomeado Vice-Cônsul de Portugal em Tânger e, em 1861, Cônsul-Geral, em substituição do seu irmão Jorge Raymundo Colaço e, a partir de 1878, acumulou estas funções com as de Cônsul do Brasil naquele país. Em 1869 foi elevado à categoria de Encarregado de Negócios e, em 1882, nomeado Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário. Exonerado “por conveniência de serviço” em 1896.

Desempenhou funções diplomáticas numa fase muito agitada da história de Marrocos, coincidente com intromissões das potências europeias nos assuntos internos, principalmente da França e Espanha, defendendo com eficácia os interesses portugueses, principalmente de cariz económico e protegendo os súbditos portugueses naquele país. Em 1880 renegociou com o governo de Marrocos o Tratado de Paz e Comércio (em vigor desde 1774).

Em 1856 acompanhou o rei de Portugal, D. Fernando, numa viagem particular aquele país, sobre a qual escreveu A Viagem de Sua Magestade o Senhor D. Fernando à Africa, publicada, primeiro em 1856, no Archivo Universal e, em 1882, editada em Tânger. De uma outra missão que J.D. Colaço desempenhou, resultou a publicação Offerecimento da Grã-Cruz da Torre e Espada ao Emperador de Marrocos (1865). No âmbito histórico publicou Soberanos Marroquinos (1906), cuja primeira versão foi publicada, em 1874, Relação da dinastias marroquinas até ao actual Sultão Muley El-Hasan, no Diário do Governo.

Frontispício de Viagem de Sua Magestade …, 1882
Frontispício de Viagem de Sua Magestade …, 1882

Possuía um excelente domínio da língua árabe, louvado em público pelo Sultão de Marrocos, na cerimónia de entrega das insígnias da ordem da Torre e Espada. Esse conhecimento abarcava igualmente as vertentes literárias e filológicas, como o prova a inscrição de dois trabalhos, conjuntamente com um sobrinho seu, Júlio Rey-Colaço, no X Congresso Internacional dos Orientalistas, convocado para Lisboa em 1892, mas que não teve lugar. Foram propostos os trabalhos “Descripção da Batalha de Alcácer Quibir”, texto árabe e tradução e, “Versão do prologo do livro arábico intitulado “Fructo dos Imperadores e Recreio dos Engenhosos”.

Foi autor de Fatah – Notas de uma viagem a Fez (1903 e trad. castelhana de 1914) e de números artigos de imprensa sobre a situação em Marrocos.

Merece ser destacada ainda a sua actividade artística, pouco conhecida, muito embora abalizada pelo curso de pintura na Academia de Belas Artes em Lisboa (1853-1855), galardoado com a Medalha de Ouro (1855) e, continuada, mais tarde, sob orientação do pintor Alejandro Ferrant y Fischermans. Em 1884, J.D. Colaço participou no 13º Salão de Pintura de Belas Artes em Lisboa expondo várias telas de temática árabe.

Figura de Marroquino, sem data
Figura de Marroquino, sem data

A maioria do seu espólio, encontra-se inédita, na posse da família, mas do que nos foi dado a conhecer, atrevemo-nos a afirmar que se trata do único artista português do mesmo nível de pintores estrangeiros orientalistas consagrados.

Foi membro da Sociedade de Geografia de Lisboa (1877). Foi condecorado

pelos governos de Espanha (1869), de Tunes e do Brasil.

E-M.v.K

Bibl.: SILVA, F. I. da (1884), vol. XII, pp. 293-295; Anuario Diplomatico e Consular Portuguez de 1896 (1897), p. 118; PAMPLONA, F. (1954), p. 229; RAMOS, J. de D. (1996), pp. 176 e 189; FORJAZ, J. (2004), pp. 88-111; KEMNITZ, E-M. von (2010), pp. 313-314 e 535-536; Idem (2012), pp. 55-63.