Marta Pacheco Pinto é Professora Auxiliar da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Doutorou-se em História da Tradução (2013), foi investigadora principal do projecto Textos e Contextos do Orientalismo Português: os Congressos Internacionais de Orientalistas (1873-1973) (PTDC/CPC-CMP/
Author: orientalistasdelinguaportuguesa
Isabel Drumond Braga [I.D.B.]
Isabel Drumond Braga – Professora associada com agregação da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, na área de História, para onde entrou por concurso público em 1990. Foi professora visitante na Universidade Federal Fluminense (Brasil), na Università di Catania (Itália), na Universidade Federal da Uberlândia (Brasil), e na Universidade Estadual de Londrina (Brasil). Professora do programa Erasmus Plus, na Università degli Studi della Tuscia (Viterbo-Itália), de 2007 a 2015 e da Università degli Studi Internazionali di Roma (UNINT- FIT), desde 2016. Tem desenvolvido investigação e lecionado nas áreas de História Social, História de Género, História Cultural e História das Práticas do Quotidiano, em especial História da Alimentação, das Épocas Moderna e Contemporânea. Membro de diversos projetos de investigação em Portugal, Espanha, Itália e Brasil e orientadora de projetos de pós-doutoramento, doutoramento e mestrado, nas áreas História da Inquisição, da História das Práticas Culturais e da História da Alimentação. Das obras mais recentes destaquem-se:
BRAGA, Isabel Drumond, BRAGA, Paulo Drumond (coord.), Reis, aristocratas e burgueses: o mundo das cartas privadas (Portugal, séculos XVII-XX), Lisboa: Colibri, 2024, 326 pp. ISBN:978-989-566-453-5.
BRAGA, Isabel Drumond (coord.), História global da alimentação portuguesa, Lisboa: Temas e Debates, 2023. ISBN 978-989-644-755-7.
BRAGA, Isabel Drumond, D. Pedro Carlos (1786-1812): um infante de Espanha em Portugal e no Brasil, Lisboa: Temas e Debates, 2023. ISBN: 978-989-644-783-0.
BRAGA, Isabel Drumond, Vida familiar à mesa: Portugal 1914-1945 / Family life at the table: Portugal 1914-1945, Lisboa: CTT- Clube de Colecionadores dos Correios, 2022. ISBN: 978-989-8988-17-1.
Orcid: http://orcid.org/0000-0002-7035-6497.
Publicações disponíveis em linha: https://ulisboa.academia.edu/IsabelDrumondBraga/
António Tenreiro
TENREIRO, António (c. 1500, Coimbra – c. 1565-1570, Lisboa) foi um fidalgo português que exerceu funções militares no Oriente. Em 1523, estava em Ormuz quando se preparava uma embaixada à Pérsia, concretamente a Tabriz, chefiada por Baltasar Pereira, enviado pelo governador D. Duarte de Meneses (antes de 1488 – depois de 1539). A missão tinha como objetivos a manutenção das relações com a Pérsia, de modo a assegurar a continuação da presença portuguesa em Ormuz e a sondagem do xeque Ismael (1487-1524) no sentido de se formar uma aliança militar, numa época de avanço do Império Otomano em direção ao Oceano Índico. Aparentemente, António Tenreiro incorporou-se na comitiva por vontade própria. Apesar de ter havido um encontro protocolar com o xá da Pérsia, a sua morte, em maio de 1524, quando a embaixada aguardava despacho, levou ao regresso a Ormuz sem se concretizarem os objetivos, uma vez que o sucessor, o xeque Tahmasp I (1514-1576), enveredou por uma política diferente.
O fidalgo permaneceu alguns meses em Tabriz, provavelmente na condição de espião, e, posteriormente, na companhia de mercadores arménios, deixou a cidade rumo a Jerusalém, cidade que nunca chegou a alcançar. Viajou, provavelmente passando por muçulmano para evitar acusações de espionagem, por Nakchivan, lago Van e Diyarbekir, onde foi considerado um agente do xá da Pérsia e deportado para o Cairo, para ser presente perante o grão-vizir otomano Pargali Ibrahim Paşa. Antes de chegar àquela cidade egípcia, onde acabou por ser libertado, passou por Alepo e Damasco. Já livre, embarcou em Alexandria rumo a Chipre, voltou a Alepo, por falta de embarcação que o levasse à Europa, passou por Baçorá e chegou, de novo, a Ormuz, no final de 1525. Completou-se, assim, um longo périplo, de cerca de dois anos, por territórios da Pérsia safávida e do Império Otomano.
António Tenreiro manteve-se em Ormuz até 1528, data em que o novo capitão, Cristóvão de Mendonça (c. 1475-1530), o encarregou de viajar por terra até Portugal, para dar conhecimento ao rei D. João III (1502-1557, r. 1521-1557) de informações sensíveis sobre a zona. A escolha do fidalgo português era pertinente, justificada pelo conhecimento das línguas árabe e turca e das regiões controladas pelos otomanos. A tarefa deveras difícil foi conseguida com êxito. Tenreiro fez o trajeto entre Ormuz e Lisboa, onde se encontrou com o monarca e foi recompensado com o hábito de Cristo e uma tença anual no valor de 30.000 reais.
O viajante, referido por vários autores do século XVI, tais como Francisco de Andrada, Fernão Lopes de Castanheira, João de Barros e Diogo do Couto, foi autor do Itinerário da Índia por terra a este reino de Portugal. A obra conheceu diversas edições, as duas primeiras em Coimbra e em vida do autor, nos anos de 1560 e 1565, esta com acrescentos. Posteriormente, integrou algumas edições da Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto (1725, 1762, 1829). Nos séculos XX e XXI, foi publicado em 1923, 1971, 1980, 1991 e 2020. Conheceu ainda uma tradução alemã, em 2002. A obra relata quatro viagens distintas, a saber, a de 1523-1524, à corte do xá Ismael; a de 1524-1525, de Tabriz até ao Cairo; a de 1525-1526 (?), de Chipre a Ormuz e a de 1528-1528, de Ormuz a Lisboa, passando por Baçorá, Alepo, Chipre, Creta, Ferrara, Génova, Valência, Toledo e Vila Viçosa. Estas andanças permitiram a observação e descrição de terras, populações de diversos credos, recursos naturais e agrícolas, produção e comercialização de seda, pesca de pérolas e de diversos modos de vida, desde os mantimentos aos trajes, passando pela caça, banquetes e música. As relações entre pessoas de religiões diferentes e entre poderes rivais interessaram-no, não obstante, as descrições relativamente aos espaços e às gentes foram, maioritariamente, positivas.
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Isabel Drumond Braga
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Frei João de Sousa
SOUSA, Frei João de (c.1730-35, Damasco – 1812-01-29, Setúbal), arabista, professor de árabe, intérprete e tradutor ao serviço de D. José I (1714-1777, r. 1750-1777). Foi criado numa das missões de Barbadinhos franceses, onde privou com o padre Gabriel de Quentin. Os pais, ao fugirem da capital da Síria, devido a perseguições movidas aos católicos, instalaram-se em Beirute levando o jovem. Naquela cidade, o referido sacerdote, voltou a encontrá-lo, protegeu-o e permitiu-lhe o acesso ao Colégio dos Barbadinhos de Beirute, onde assistiu a aulas durante três anos. Aprendeu então francês e algum latim. Após a passagem pelo Colégio, esteve algum tempo em casa de um negociante francês com o qual partiu para a Europa, findos os 14 anos de residência daquele na Turquia, os quais não foram prorrogados pelo Grão Senhor. A viagem foi particularmente acidentada. Corsários ingleses tomaram a fortuna do negociante francês que se dirigia para a sua terra natal, fazendo-o mudar de itinerário. Optou por passar a Malta, dali a Nápoles e, por fim, a Lisboa.
Desconhece-se como frei João de Sousa terá passado os primeiros anos em Portugal, desde que se fixou em 1749 ou 1750. De qualquer forma, em certo momento, passou a residir em casa de Aires de Saldanha e Albuquerque Coutinho Matos e Noronha (1681-1756). Em 1755, após o terramoto, passou, como criado, para casa de Gaspar de Saldanha e Albuquerque, futuro reitor da Universidade de Coimbra (1757-1767). Em 1758, ambos foram para aquela cidade, João de Sousa, na qualidade de secretário. Desejando professar na Ordem Terceira da Penitência de São Francisco, conseguiu o intento no convento de Nossa Senhora de Jesus, em Lisboa, em 10 de dezembro de 1772, quando era provincial frei Manuel do Cenáculo Vilas Boas (1724-1814).
Toda a vida de frei João de Sousa foi dedicada ao estudo, ensino e tradução do árabe falado e escrito. Poliglota, conhecia e falava francês, italiano, castelhano, maltês, português, além de um pouco de latim, turco e persa, mas tinha como língua materna o árabe. Foi autor de vasta obra, manuscrita e impressa, alguma dela motivada pelo seu trabalho de professor e de intérprete oficial de árabe, função que desempenhou desde 1784, passando posteriormente a oficial honorário e intérprete régio, em 1786, e, finalmente, a oficial do quadro do Ministério dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, em 1792. Foi assim que acompanhou as missões diplomáticas marroquinas em Lisboa (1774, 1777-1778, 1780) e as portuguesas em Marrocos (1773-1774, 1790-1791) e Argel (1786-1787). De todas estas embaixadas elaborou diários, relações ou relatos que se mantiveram inéditos até ao século XXI, designadamente Relação da jornada que á cidade de Marrocos fez Joze Rollem Wan Dek… (1773-1774), Diario da primeira embaixada que da corte de Marrocos… (1774), Da segunda embaixada que El Rei de Marrocos… (1777), Diario da terceira embaixada que da corte de Marrocos (1780), Diario da segunda que da Corte de Lisboa (1790-1791) e Diario da jornada que Jacques Filippe de Landreset (1786-1787). Acresce ainda a atividade de tradutor por ocasião da chamada arribada das princesas, em 1793, cujo relato teve honras de impressão, sob o título Narração da arribada das princezas africanas…, certamente devido ao que foi entendido na época como um enorme exotismo.
Desde 1788, a título particular, e a partir de 1795, a nível oficial, ensinou o idioma árabe no Convento de Nossa Senhora de Jesus, substituindo frei António do Rosário Baptista. Antes, porém, já ensinara árabe em Alcobaça a mando do Abade Geral, frei Manuel de Mendonça, visitador e reformador do cenóbio, que elaborou um método ou plano de estudos confirmado por D. José I, em 1776. Em Alcobaça, foi substituir Paulo Hodar (†1780) que passou ao Convento de Jesus e, mais tarde, em 2 de janeiro de 1773, foi nomeado professor de hebraico, siríaco e árabe na Universidade de Coimbra. As atividades desenvolvidas como professor, tradutor e colecionador de vários tipos de documentos árabes implicaram a escrita de diversas outras obras. Enquanto docente, entendeu ser útil a publicação de gramáticas, léxicos e ainda fábulas morais. Neste contexto, são de assinalar a edição de Documentos arábicos para a história portugueza (1790), Vestígios da língua arábica em Portugal (1789), obra posteriormente acrescentada por frei José de Santo António de Moura (1770-1840), em 1830; e Compendio da grammatica arábica (1795). Frei João de Sousa escreveu ainda uma oração gratulatória em louvor de D. José I, Mandîhu fî hamdi sûrati ’lsultâni Yûsufa ’lawwali, em 1775, por ocasião da inauguração da estátua equestre do monarca, e um pequeno texto intitulado Doutrina christã em portuguez e arabico que se deve ensinar a qualquer mouro que quiser abraçar a nossa santa religião, destinado a doutrinar os reduzidos de origem muçulmana. Percorreu o Alentejo à procura de inscrições, colecionou moedas e examinou e leu manuscritos árabes, alguns dos quais traduziu. Foi académico correspondente da Real Academia das Ciências, desde 6 de dezembro de 1780, passando a sócio livre, em 1 de abril de 1791.
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Isabel Drumond Braga
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Anabela Leandro dos Santos [A.L.S.]
Anabela Leandro dos Santos, n. 1987, licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas, vertente Português/Inglês na Faculdade de Letras de Lisboa. Após um interregno de vários anos em que se dedicou à sua vida profissional, frequentou o Curso de Graduação em Estudos Orientais na Universidade Católica no IEO – Instituto de Estudos Orientais – tendo concluído em 2010, o Mestrado em Estudos Orientais na mesma Universidade, em Lisboa, com a defesa da tese “Piratas e contrabandistas chineses (Wokou) nos textos europeus do século XVI (1510-1560)”.
Artur Eugénio Lobo d’Ávila
Artur Eugénio Lobo d’Ávila (1856-1945) nasceu em Lisboa e iniciou a sua carreira no Comércio, estando aos 19 anos de idade como empregado da Alfândega; contudo, foi essencialmente escritor e jornalista.
No ano de 1874, acompanhou seu pai, General José Maria Lobo de Ávila, nomeado Governador de Macau e posteriormente Ministro Plenipotenciário na China, no Sião e no Japão e, também na companhia de seu tio, Joaquim Tomás Lobo de Ávila, 1.º Conde de Valbom. Foi Secretário Particular de seu pai e também Secretário de Legação na China, no Japão e no Sião.
Regressou a Lisboa em 1877 e voltou ao seu posto na Alfândega. Nessa altura, matriculou-se no Curso Superior de Letras. Sentia uma grande atração pela Literatura e sobretudo pelo Teatro.
Como jornalista iniciou-se na redação de O Comércio de Lisboa, colaborando também nos jornais Diário de Notícias, O Século, Jornal da Colónias, entre outros.
Notabilizou-se pelos livros produzidos, nomeadamente A descoberta e conquista da India pelos portugueses: romance histórico (1898), mas produziu também A verdadeira paixão de Bocage; romance historico sobre a vida do grande poeta (1905). Contudo, os registos de viagens mais interessantes são os produzidos no seu livro de Memórias em que relata ‘interessantes apontamentos da sua viagem à China’.
Como esteve na China em 1874, forneceu um testemunho pessoal do grande tufão que assolou Macau e que lhe deixaria marcas para o resto da vida: “nessa inesquecível noite de pavor, me ficou, para sempre, uma doença do sistema nervoso, que tem sido o flagelo de toda a minha existência” (D’Ávila 1946), aliás, fenómeno também relatado por Gastão Mesnier no Boletim Oficial da província de Macau e de Timor.
Convidado que foi para assistir a uma decapitação, D’Avila declinou o convite com certo repúdio; as execuções eram uma constante em território sínico: “há, quási diariamente, execuções pela mão do carrasco, em um campo chamado matau!” (D’Avila 1945), aliás, testemunhos de vários autores quer nacionais quer estrangeiros.
Visitou ainda o Pagode dos Horrores em Cantão, alegando ser este um território de arrepios onde variadíssimas formas, dos mais requintados suplícios, ali se encontravam reproduzidos, mas onde o visitante podia também admirar a arte plástica chinesa.
ALS
Bibl.: D’Ávila, Artur Lobo 1946. Memórias de Artur Lobo D’Ávila (com interessantes apontamentos da sua viagem à China) (1855-1945), Lisboa
Bernardo Pinheiro Correia de Melo
Bernardo Pinheiro Correia de Melo – Conde de Arnoso (1855-1911), de origem fidalga, era filho do Primeiro Visconde de Pindela, João Machado Pinheiro Correia de Melo, fidalgo cavaleiro da Casa Real. Bernardo, que assinou os seus escritos com o nome de Bernardo Pindela, ficou conhecido pelo título nobiliárquico de Conde de Arnoso que lhe foi agraciado através do Decreto de 28 de Setembro de 1895.
No entanto, e por via do seu nascimento e ilustre ascendência, acumulou outros títulos e qualidades, tais como o grau de Cavaleiro da Ordem de Nossa Senhora da Conceição, Cavaleiro da Ordem de São Maurício e S. Lázaro, de Itália, Comendador de Isabel a Católica, de Espanha, oficial às ordens do rei D. Carlos e seu secretário particular. Foi nesta posição de secretário do rei português que esteve presente nas exéquias fúnebres da Rainha Vitória em Janeiro de 1901, assim como na coroação do rei Eduardo VII, acompanhante do príncipe, D. Luís Filipe. Era um monárquico convicto já que após a Proclamação da República pediu a sua demissão da sua carreira militar (Castro 1961).
Seguiu a carreira das Armas, como oficial de engenharia e em 1887, acompanhou a Pequim, na qualidade de secretário, o Conselheiro Tomás Rosa, numa missão diplomática que tinha como finalidade celebrar um tratado com a China. Aí contacta com o mundo sínico, não deixando, porém, de escrever vivas notas de viagem, primeiro publicadas em forma de artigos na publicação quinzenal do Porto, as Novidades, e posteriormente reunidas num livro com o título de Jornadas pelo mundo, publicadas em 1895. Nesta obra descreve a China e o Japão em curiosos apontamentos.
De realçar a sua amizade com o escritor Eça de Queirós tendo protagonizado, com a sua influência, que se erguesse um monumento à sua memória – o que aconteceu em Lisboa, no Largo do Quintela (Castro 1961). É descrito como um homem bastante inteligente, um rápido escritor de contos graciosos e apontamentos de viagens, sendo que era também alguém que tinha ‘o coração ao pé da boca’.
ALS
Bibl: Correia de Melo, Bernardo Pinheiro [1895], Jornadas pelo mundo, (1916) Companhia Portuguesa Editora, Porto
Castro, Augusto (1961), “Conferência. O Conde de Arnoso”. In Revista de Guimarães, Publicação da Sociedade Martins Sarmento, Número 71 (1-2), Jan.-Jun. pp 165-175
Carlos José Caldeira
Carlos José Caldeira (1811-1882) nasceu em Lisboa, filho do desembargador José Vicente Caldeira de Casal Ribeiro e meio-irmão do Conde de Casal Ribeiro.
Formou-se na Academia Real da Marinha e frequentou a Aula do Comércio, tendo iniciado carreira na administração pública tendo tido o cargo de inspector geral das alfândegas. Era um profundo conhecedor da economia portuguesa tendo publicado vários artigos sob o pseudónimo de Veritas, em vários periódicos, tais como Arquivo Pitoresco, Diário de Notícias, Revista Peninsular, entre outros. Foi igualmente jornalista, diplomata e político.
Em Junho de 1850, iniciou uma longa viagem através do Mediterrâneo e do Mar Vermelho até à China, onde permaneceu 16 meses, visitando diversos portos, entre os quais de Hong Kong, Shangai, Cantão e Macau. Desta viagem e da sua permanência em terras sínicas resultam várias obras, com destaque para Os Apontamentos d’uma viagem de Lisboa á China e da China a Lisboa (1852-3), em 2 volumes, impressa na Typographia de G. M. Martins, em Lisboa. O primeiro volume dedica-se a descrever a China e sobretudo Macau – assim como a Gruta de Camões que é profusamente descrita – a cultura chinesa, assim como outras questões nomeadamente, a introdução do judaísmo na China antiga. O segundo volume descreve as relações de Portugal com vários países, com destaque para o Sião, Malaca, entre outros.
Escreveu ainda Considerações sobre o estado das Missões e da religião Christã na China (1851) e, ainda em Macau, colaborou na redacção do Boletim Oficial do Governo de Macau (1850-51) – aliás que o próprio refere nos capítulos 14 e 17 dos seus Apontamentos de Viagem – acompanhando de perto a actividade governativa de Francisco António Gonçalves Cardoso, por quem manifestou profunda simpatia pessoal e admiração política.
Se salientar, o teor de alguns dos capítulos de Apontamentos, nomeadamente relativos ao teatro chinês e à música, às sociedades secretas, ao assassinato do governador João Maria Ferreira do Amaral em 22 de Agosto de 1849 e à transladação do seu corpo para Portugal, à Explosão da fragata D. Maria II e aos piratas que, nas considerações de Caldeira, era “incalculavel o numero dos piratas ou lanchaes que infestam as costas da China” (Cap. 31).
Curiosa é também a nomeação do autor, por uma portaria do governo de Macau de 28 de Fevereiro, como Membro de uma Comissão para o melhoramento da cadeia da cidade (Cap. 24) em que, comparando as instalações da cadeia chinesa com as do Limoeiro de Lisboa – porque aí esteve preso durante quatro meses por motivos políticos -, afirmando o quanto as cadeias de Macao eram péssimas, em pavimentos térreos; eram escuras e sem circulação de ar, para além de imundas. Contudo, não se aproximava de alguns dos horrorosos carceres que vi no Limoeiro’ (Caldeira, 1852).
ALS
Bibl: Caldeira (1852). Os Apontamentos d’uma viagem de Lisboa á China e da China a Lisboa (1852-3), Typographia de G. M. Martins, Lisboa
Eduardo Marques Pereira
Eduardo Marques Pereira (1846-1910), era filho do macaense Gabriel Marques e de Clara Maria Rosa Vieira era oriundo de uma família reputada e abastada já que seu pai tinha vários cargos em instituições da cidade.
Eduardo Marques foi também militar de carreira, com o cargo de alferes do Batalhão Nacional de Macau. Todavia, em 1865, o Governo de Lisboa, visando colmatar carências sinológicas em Macau, decretou a criação de um corpo de quatro intérpretes de língua sínica, para o que se abriram cursos na Procuratura dos Negócios Sínicos, designada por Repartição Técnica do Expediente Sínico a partir de 1884. Esta Repartição foi criada pelo Decreto de 2 de Novembro de 1885, publicado no Boletim da Província de Macau e Timor em 22 de Março de 1886 e estabelecia uma composição de um intérprete de 1ª. Classe, um de 2ª e dois alunos intérpretes. Foi chefiada por Pedro Nolasco da Silva (1885-1892) sendo que Eduardo Marques o sucedeu em 1892.
Nem todos os intérpretes e tradutores se notabilizaram com trabalho escrito e publicado, mas a sua credibilidade sustentou-se na sua posição social e profissional na sociedade macaense. Conhecedor da língua (Mandarim) e com bastantes conhecimentos acerca da sociedade chinesa, seus hábitos e costumes, Eduardo Marques notabilizou-se pelas suas competências.
Anteriormente, seria já um connaisseur da realidade chinesa, mesmo a nível da sua numismática já que em Novembro de 1883, com 37 anos e de acordo com Adolfo Loureiro, “ao illustrado sinólogo, o Sr. Eduardo Marques, devi muito curiosas informações sobre a numismática chineza. Foi elle que me classificou uma pequena collecção de sapecas, que obtivera para um amigo, que e exímio colleccionador e, portanto, conhecedor de numismática de todo o mundo” (Loureiro 2000).
A menção ao nome de Eduardo Marques é feita também por Demétrio Cinatti relativamente a um episódio de teratologia ocorrido em Macau que terá narrado então ao Cônsul da província de Guangdong (Cantão) e que ficou registado nas suas notas de tradução.
Eduardo Marques e Feliciano Marques Pereira (1863-1909) – este último adquiriu posição de destaque no meio intelectual português como estudioso das coisas do Oriente. Ambos se dedicaram ao jornalismo e ganharam notoriedade pública, fundando e dirigindo o Ta-ssi-yang-kuo (literalmente O Grande Reino do Mar do Oeste) de 1899 a 1903. Assim, deram corpo à publicação Ta-Ssi-Yang-Kuo: “semanario macaense d’interesses publicos locaes, litterario e noticioso” (1863-1864). Ainda de salientar que Eduardo Marques referiu a participação de Callado Crespo como recente (à data de 1899) nesta publicação.
Eduardo Marques desempenhou um papel preponderante na recolha, seleção e análise de documentos, eventos e demais particularidades da civilização chinesa e do encontro entre civilizações (particularmente em Macau), assim como no conhecimento da diplomacia luso-chinesa no século XIX.
O cartão de visita de Eduardo Marques está patente na coleção de cartões no álbum de Emílio de Paiva.
A.L.S.
Bibl.: CINATTI, Demétrio (1891); LOUREIRO, Adolfo (2000); PAIVA, F.E. (1997); FORJAZ, Jorge (1996); Introdução de TSYK, Jorge Santos Alves, Macau, pp. I-XI
Filipe Emílio Paiva
Filipe Emílio Paiva (1871-1954) foi militar de carreira da Marinha, colocado como efectivo na Estação Naval de Macau em Abril de 1903. Regressou a Portugal em 19 de Maio de 1905, momento em que, por força de uma licença de sessenta dias, regressava a Portugal na canhoneira Diu.
Produziu um diário durante dois anos (1903-1905) – que posteriormente foi oferecido à Sociedade de Geografia de Lisboa pela sua viúva – reunindo, num álbum, fotografias, postais, bilhetes, cartões-de-visita, cardápios, entre outros. Igualmente interessante é o conjunto de cartões-de-visita que foi guardando relativos às personalidades macaenses, sendo que o cartão-de-visita de Eduardo Marques se encontra nesta colecção.
O seu álbum é maioritariamente de âmbito visual contendo uma gravura (aguarela) de sua autoria com a seguinte anotação manuscrita: “Uma execução sat ne ca-tau em Cantão no dia 13-11-1903”. No mesmo álbum, Paiva reúne várias fotografias e postais ilustrados locais com representações de execuções públicas (decapitações). Fez considerações acerca da natureza das prisões e dos suplícios, dos suicídios, assim como da aplicação das sentenças, e da forma como os subornos funcionavam (Paiva 1997).
Terá certamente assistido a alguns procedimentos criminais, produzindo um detalhado relato sobre uma execução a que assistiu.
ALS
Bibl.: Paiva, Filipe Emílio 1997. Um marinheiro em Macau 1903 – álbum de viagem, Museu Marítimo de Macau, Macau (1903 a 1905)
Francisco Maria Bordalo
Francisco Maria Bordalo (1821-1861) nasceu em Lisboa e era filho de José Joaquim Bordalo e de sua mulher, D. Madalena Gertrudes Dinis. O seu irmão, o tenente Luís Maria Bordalo, falecido em 29 de Outubro de 1850, foi uma das vítimas da explosão da fragata D. Maria II em Macau. Francisco Bordalo dedicou-lhe postumamente o romance Sansão na vingança. (1854).
Bordalo viajou bastante e esteve em Macau de 1849 a 1852 enquanto militar de carreira, como Oficial de Marinha de Guerra e Secretário do Governo de Macau. Também percorreu muitos outros locais da Ásia, tendo narrado as suas impressões sobre os lugares exóticos – que ele apelidou de extravagantes – e por onde deambulou ou mesmo permaneceu.
Dedicou-se às narrativas marítimas e produziu vasta bibliografia. É também autor de Trinta anos de peregrinação -1821 a 1851 que foi publicado em fascículos no «Boletim de Governo» de 1851. Colaborou ainda, entre outras, na Revista Universal Lisbonense (1841-1853), Revista popular, O Panorama (1837-1868), onde em 1854, publica Quadros marítimos, (vol. III da 3ª série).
Em 1854 publicou Um passeio de sete mil léguas, composto por vinte quatro (24) cartas que dirige ao seu amigo C*** (1852 -1853). Algumas destas cartas vão revelando pormenores casuísticos a nível do procedimento criminal, com muitos juízos de valor acerca do mundo sínico e também algumas informações que foram certamente retiradas de textos que leu.
De realçar a menção que faz à Grande Exposição de Londres de 1851, acontecimento de grande importância para o mundo ocidental, sendo que a Inglaterra quis demonstrar o seu poderio económico – e das suas colónias – especialmente ao país rival, a França, em detrimento da presença e das matérias expostas por outras nações que considerou como ‘menos civilizadas’ – tal o caso da China.
ALS
Bordalo, Francisco Maria, 1854. Um passeio de sete mil léguas – Cartas a um amigo, Lisboa
Joaquim Heliodoro Callado Crespo
Joaquim Heliodoro Callado Crespo (1861- 1921), nascido em Portalegre, foi oficial do exército e diplomata, tendo exercido a função de cônsul de Portugal em Cantão entre 1895 e 1900, onde assistiu à então conturbada vida política na China.
Colaborou nos Arquivos e Anais do Extremo-Oriente Português (1899), publicados com o título de Ta-ssi-yang-kuo com as suas descrições de práticas penais efectivas em aplicação na China. Tudo indica que a sua participação era recente (à data de 1899) já que Marques Pereira se refere “ao nosso prezado amigo e novo collaborador”.
Assinou o artigo “O inferno taoista”, elaborado com base na obra chinesa Yu-Li [Divino Panorama], traduzida por H.A. Giles, para dar conta dos “dez reinos ou tribunais situados no fundo do grande oceano que há nas profundezas da terra”. A tal intenção descritiva subjaz, no seu dizer, “fazer ideia da força de imaginação dos chinezes em matéria de castigos” (Crespo 1899).
Bastante interessado pela cultura sínica, escreveu em 1900 “A China em 1900″ e “Cousas da China: costumes e crenças” (1898). Ora, o seu livro Cousas da China – Costumes e Crenças era conhecido e Marques Pereira a ele se refere como sendo interessante, pelo que se presume tê-lo lido. Igualmente faz questão de realçar os “nossos” leitores, “ávidos de conhecimento sobre tudo quanto diga respeito a esse ainda mysterioso paiz, que actualmente preoccupa tanto as attenções do mundo occidental”. (Marques Pereira, 1995).
O livro de Crespo aborda as temáticas penais chinesas e introduz uma curiosa entrevista entre o carrasco de Cantão e ele próprio. Aí refere a questão do suborno: “uma pequena esportula [e] o verdugo não teve inconveniente em apresentar os instrumentos da sua profissão” (Crespo 1898, mas também da actividade do carrasco que se sentia orgulhoso da sua profissão e especialmente da sua experiência em cortar cabeças ao primeiro golpe.
ALS
Bibl.: Crespo, Joaquim Heliodoro Callado (1898). Cousas da China – costumes e crenças, Quarto Centenário do Descobrimento da Índia, Contribuições da Sociedade Geografia de Lisboa. Lisboa: Imprensa Nacional
Pereira, J. F. Marques 1995. Ta-ssi-yang-kuo, Arquivos e Anais do Extremo-Oriente
Português, Série I – Vol. I – II e III-IV, Ed. DSEJ/FM, 2 volumes, Macau
José Ignácio de Andrade
José Ignácio de Andrade (1870-1863), nascido nos Açores, desde cedo se notabilizou como empresário e comerciante, e enriqueceu através das suas viagens. Foi Capitão de longo curso e dedicou-se a negociar as mercadorias que, entretanto, transportava nos barcos que ele próprio armava e comandava. Foi nesta qualidade que iniciou uma série de viagens à Índia e à China.
A sua primeira publicação foi em 1817 – ainda que não assinada – na liberal Mnemosine Lusitana, um jornal de Belas-Artes cuja temática abordava a destruição dos piratas da China e o desembarque e retirada dos Ingleses em Macau. Mais tarde, em 1835, editará o livro Memória dos feitos macaenses contra os piratas da China e da entrada violenta dos ingleses na cidade de Macau.
A sua escrita reflecte não só uma capacidade de observação como também uma vasta cultura geral e manifesta uma particular antipatia pelos ingleses, que criticou na sua obra mais notória, as Cartas escriptas da India e da China nos annos de 1815 a 1835, que dirige essencialmente a sua esposa, D. Maria Gertrudes de Andrade, publicado em dois volumes pela Imprensa Nacional em 1847. Aí refuta igualmente os escritos de George Staunton – que em 1810 havia escrito Ta Tsing Leu Lee; The Fundamental Laws, and a Selection from the Supplementary Statutes of the Penal Code of China – orientalista e tradutor que viveu vários anos no Sul da China.
A obra que dedicou a sua esposa trata, em cem cartas, das suas viagens ao Oriente, que ocorreram entre 1835 e 1837, quando Ignácio de Andrade, já sexagenário, descreveu com alguma minúcia os costumes e história dos chineses, assim como as suas reflexões filosóficas e comparações entre esses povos e as sociedades europeias. De salientar as Cartas LIV e LV sobre a Justiça Criminal, Civil e da Polícia e leis chinesas. Ainda as profusas e detalhadas descrições da filosofia confuciana, da cosmologia chinesa e história das dinastias. Ainda salientar a Carta LIX que revisita Fernão Mendes Pinto e os piratas Similao e Coja-Acem no século XVI.
Em Portugal, veio igualmente a desempenhar as funções de vereador da Câmara Municipal de Lisboa e mais tarde como Presidente da mesma instituição entre 1838-39. Foi também membro da Administração do Banco de Portugal.
ALS
Bibl: Andrade, José Ignácio (1835). Memória dos feitos macaenses contra os piratas da China e da entrada violenta dos ingleses na cidade de Macau, Typografia Lisbonense, Lisboa
___. (1847) Cartas escriptas da India e da China nos annos de 1815 a 1835, Imprensa Nacional, Lisboa
Santana Rodrigues
Vd. TECOP – Textos e Contextos do Orientalismo Português: https://tecop.bnportugal.gov.pt/np4/santana.html
René Basset
Vd. TECOP – Textos e Contextos do Orientalismo Português: https://tecop.bnportugal.gov.pt/np4/basset.html
Luciano Cordeiro
Vd. TECOP – Textos e Contextos do Orientalismo Português: https://tecop.bnportugal.gov.pt/np4/cordeiro.html
José Maria Rodrigues
Vd. TECOP – Textos e Contextos do Orientalismo Português: https://tecop.bnportugal.gov.pt/np4/rodrigues.html
José (Joseph) M. Benoliel
Vd. TECOP – Textos e Contextos do Orientalismo Português: https://tecop.bnportugal.gov.pt/np4/benoliel.html
José António Dias Coelho
Vd. TECOP – Textos e Contextos do Orientalismo Português: https://tecop.bnportugal.gov.pt/np4/diascoelho.html
Jerónimo Pinheiro de Almeida da Câmara Manuel
Vd. TECOP – Textos e Contextos do Orientalismo Português: https://tecop.bnportugal.gov.pt/np4/manuel.html