Eduardo Marques Pereira

Eduardo Marques Pereira (1846-1910), era filho do macaense Gabriel Marques e de Clara Maria Rosa Vieira era oriundo de uma família reputada e abastada já que seu pai tinha vários cargos em instituições da cidade.

Eduardo Marques foi também militar de carreira, com o cargo de alferes do Batalhão Nacional de Macau. Todavia, em 1865, o Governo de Lisboa, visando colmatar carências sinológicas em Macau, decretou a criação de um corpo de quatro intérpretes de língua sínica, para o que se abriram cursos na Procuratura dos Negócios Sínicos, designada por Repartição Técnica do Expediente Sínico a partir de 1884. Esta Repartição foi criada pelo Decreto de 2 de Novembro de 1885, publicado no Boletim da Província de Macau e Timor em 22 de Março de 1886 e estabelecia uma composição de um intérprete de 1ª. Classe, um de 2ª e dois alunos intérpretes. Foi chefiada por Pedro Nolasco da Silva (1885-1892) sendo que Eduardo Marques o sucedeu em 1892.

Nem todos os intérpretes e tradutores se notabilizaram com trabalho escrito e publicado, mas a sua credibilidade sustentou-se na sua posição social e profissional na sociedade macaense. Conhecedor da língua (Mandarim) e com bastantes conhecimentos acerca da sociedade chinesa, seus hábitos e costumes, Eduardo Marques notabilizou-se pelas suas competências.

Anteriormente, seria já um connaisseur da realidade chinesa, mesmo a nível da sua numismática já que em Novembro de 1883, com 37 anos e de acordo com Adolfo Loureiro, “ao illustrado sinólogo, o Sr. Eduardo Marques, devi muito curiosas informações sobre a numismática chineza. Foi elle que me classificou uma pequena collecção de sapecas, que obtivera para um amigo, que e exímio colleccionador e, portanto, conhecedor de numismática de todo o mundo” (Loureiro 2000).

A menção ao nome de Eduardo Marques é feita também por Demétrio Cinatti relativamente a um episódio de teratologia ocorrido em Macau que terá narrado então ao Cônsul da província de Guangdong (Cantão) e que ficou registado nas suas notas de tradução.

Eduardo Marques e Feliciano Marques Pereira (1863-1909) – este último adquiriu posição de destaque no meio intelectual português como estudioso das coisas do Oriente.  Ambos se dedicaram ao jornalismo e ganharam notoriedade pública, fundando e dirigindo o Ta-ssi-yang-kuo (literalmente O Grande Reino do Mar do Oeste) de 1899 a 1903.  Assim, deram corpo à publicação Ta-Ssi-Yang-Kuo: “semanario macaense d’interesses publicos locaes, litterario e noticioso” (1863-1864).  Ainda de salientar que Eduardo Marques referiu a participação de Callado Crespo como recente (à data de 1899) nesta publicação.

Eduardo Marques desempenhou um papel preponderante na recolha, seleção e análise de documentos, eventos e demais particularidades da civilização chinesa e do encontro entre civilizações (particularmente em Macau), assim como no conhecimento da diplomacia luso-chinesa no século XIX.

O cartão de visita de Eduardo Marques está patente na coleção de cartões no álbum de Emílio de Paiva.

A.L.S.

Bibl.: CINATTI, Demétrio (1891); LOUREIRO, Adolfo (2000); PAIVA, F.E. (1997); FORJAZ, Jorge (1996); Introdução de TSYK, Jorge Santos Alves, Macau, pp. I-XI 

 

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