Carlos José Caldeira

Carlos José Caldeira (1811-1882) nasceu em Lisboa, filho do desembargador José Vicente Caldeira de Casal Ribeiro e meio-irmão do Conde de Casal Ribeiro.

Formou-se na Academia Real da Marinha e frequentou a Aula do Comércio, tendo iniciado carreira na administração pública tendo tido o cargo de inspector geral das alfândegas. Era um profundo conhecedor da economia portuguesa tendo publicado vários artigos sob o pseudónimo de Veritas, em vários periódicos, tais como Arquivo Pitoresco, Diário de Notícias, Revista Peninsular, entre outros. Foi igualmente jornalista, diplomata e político.

Em Junho de 1850, iniciou uma longa viagem através do Mediterrâneo e do Mar Vermelho até à China, onde permaneceu 16 meses, visitando diversos portos, entre os quais de Hong Kong, Shangai, Cantão e Macau. Desta viagem e da sua permanência em terras sínicas resultam várias obras, com destaque para Os Apontamentos d’uma viagem de Lisboa á China e da China a Lisboa (1852-3), em 2 volumes, impressa na Typographia de G. M. Martins, em Lisboa. O primeiro volume dedica-se a descrever a China e sobretudo Macau – assim como a Gruta de Camões que é profusamente descrita – a cultura chinesa, assim como outras questões nomeadamente, a introdução do judaísmo na China antiga. O segundo volume descreve as relações de Portugal com vários países, com destaque para o Sião, Malaca, entre outros.

Escreveu ainda Considerações sobre o estado das Missões e da religião Christã na China (1851) e, ainda em Macau, colaborou na redacção do Boletim Oficial do Governo de Macau (1850-51) – aliás que o próprio refere nos capítulos 14 e 17 dos seus Apontamentos de Viagem – acompanhando de perto a actividade governativa de Francisco António Gonçalves Cardoso, por quem manifestou profunda simpatia pessoal e admiração política.

Se salientar, o teor de alguns dos capítulos de Apontamentos, nomeadamente relativos ao teatro chinês e à música, às sociedades secretas, ao assassinato do governador João Maria Ferreira do Amaral em 22 de Agosto de 1849 e à transladação do seu corpo para Portugal, à Explosão da fragata D. Maria II e aos piratas que, nas considerações de Caldeira, era “incalculavel o numero dos piratas ou lanchaes que infestam as costas da China” (Cap. 31).

Curiosa é também a nomeação do autor, por uma portaria do governo de Macau de 28 de Fevereiro, como Membro de uma Comissão para o melhoramento da cadeia da cidade (Cap. 24) em que, comparando as instalações da cadeia chinesa com as do Limoeiro de Lisboa – porque aí esteve preso durante quatro meses por motivos políticos -, afirmando o quanto as cadeias de Macao eram péssimas, em pavimentos térreos; eram escuras e sem circulação de ar, para além de imundas. Contudo, não se aproximava de alguns dos horrorosos carceres que vi no Limoeiro’ (Caldeira, 1852).

 

ALS

Bibl: Caldeira (1852). Os Apontamentos d’uma viagem de Lisboa á China e da China a Lisboa (1852-3), Typographia de G. M. Martins, Lisboa

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