Vd. TECOP – Textos e Contextos do Orientalismo Português: https://tecop.bnportugal.gov.pt/np4/moraes.html
Author: orientalistasdelinguaportuguesa
Francisco Maria Cordeiro de Sousa
Vd. TECOP – Textos e Contextos do Orientalismo Português: https://tecop.bnportugal.gov.pt/np4/cordeirosousa.html
Francisco de Meneses Meireles de Távora do Canto e Castro
Vd. TECOP – Textos e Contextos do Orientalismo Português: https://tecop.bnportugal.gov.pt/np4/meireles.html
Francisco de Assis Clemente
Vd. TECOP – Textos e Contextos do Orientalismo Português: https://tecop.bnportugal.gov.pt/np4/clemente.html
Francisco Adolfo Coelho
Vd. TECOP – Textos e Contextos do Orientalismo Português: https://tecop.bnportugal.gov.pt/np4/coelho.html
David de Melo Lopes
Vd. TECOP – Textos e Contextos do Orientalismo Português: https://tecop.bnportugal.gov.pt/np4/lopes.html
D. Carlos I
Vd. TECOP – Textos e Contextos do Orientalismo Português: https://tecop.bnportugal.gov.pt/np4/Carlos-I.html
Charles Lucas
Vd. TECOP – Textos e Contextos do Orientalismo Português: https://tecop.bnportugal.gov.pt/np4/lucas.html
Charles Ralph Boxer
Vd. TECOP – Textos e Contextos do Orientalismo Português: https://tecop.bnportugal.gov.pt/np4/boxer.html
António Cândido de Figueiredo
Vd. TECOP – Textos e Contextos do Orientalismo Português: https://tecop.bnportugal.gov.pt/np4/figueiredo.html
Aniceto dos Reis Gonçalves Viana
Vd. TECOP – Textos e Contextos do Orientalismo Português: https://tecop.bnportugal.gov.pt/np4/viana.html
Ângelo Sárrea de Sousa Prado
Vd. TECOP – Textos e Contextos do Orientalismo Português: https://tecop.bnportugal.gov.pt/np4/prado.html
André Paulo de Andrade
Vd. TECOP – Textos e Contextos do Orientalismo Português: https://tecop.bnportugal.gov.pt/np4/andrade.html
Demétrio Cinatti
Vd. TECOP – Textos e Contextos do Orientalismo Português: https://tecop.bnportugal.gov.pt/np4/cinatti.html
António Barrento [A.B.]
Docente na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Doutorado em História da China (SOAS, Universidade de Londres), Mestre em Estudos da Ásia do Sul (SOAS, Universidade de Londres), em Língua e Sociedade Japonesas (Universidade de Sheffield), História da Ásia (SOAS, Universidade de Londres), Estudos Asiáticos (Universidade de Hong Kong), Direito (Universidade de Hong Kong), e Estudos Europeus Avançados (Colégio da Europa, Bruges), Licenciado em Direito (Universidade Católica Portuguesa de Lisboa).
Jane Adriane Gandra [J.A.G.]
Jane Adriane Gandra (1970, Montes Claros) formou-se em Letras (2001) pela Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES). Cursou mestrado (2007) e Doutorado (2012) na Universidade de São Paulo (USP) com estudos acerca de um escritor do século XIX, Manuel Pinheiro Chagas. É professora titular da Universidade Estadual de Goiás (UEG), desde 2011. Dedica-se a orientações e a publicações de artigos sobre escritoras em Goiás.
José Carvalho Vanzelli [J.C.V.]
José Carvalho Vanzelli é doutor em Letras (Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa) pela Universidade de São Paulo (USP). Realizou Pós-Doutoramento na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Actualmente, é docente da graduação em Letras (área de Estudos Japoneses) e da pós-graduação (Estudos Literários) da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Trabalha sobre Orientalismo nas literaturas de Portugal e Brasil, literatura portuguesa, literatura japonesa e diálogos entre literatura, teatro e cinema.
Antero Quental
Quental, Antero Tarquínio de (1842, Ponta Delgada – 1891, Ponta Delgada), poeta, pensador
Bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra, se destacou no cenário intelectual português, principalmente como poeta. Foi também protagonista da famosa Questão Coimbrã e das Conferências do Casino Lisbonense, além de ser considerado uma espécie de mentor da afamada Geração de 70. Em prosa, deixou uma série de reflexões e textos críticos, destacando seus pensamentos sobre a filosofia no século XIX.
Antero nunca viajou ao Oriente, nem participou dos congressos de orientalistas. Entretanto, sua obra é fortemente marcada pelo pensamento oriental, especialmente o Budismo. Amigo de Guilherme de Vasconcelos Abreu, Antero debateu com esse orientalista diversas questões sobre o Budismo e o Hinduísmo.
Segundo a contribuição de Eça de Queiroz ao In Memoriam (1896) de Antero, o Oriente se faz presente desde as leituras formativas do jovem poeta, quando “os Vedas, o Mahabarata, o Zend-Avesta, os Eddas, os Niebelungen eram os livros sobre que nos precipitávamos com a gula tumultuosa da mocidade que devora, aqui, além, um trecho mais vistoso, sem ter a paciência de se nutrir com método” (Queiroz 2011, 290).
Em sua produção bibliográfica, encontramos imagens pendulares acerca do Oriente, uma vez que é possível identificar posicionamentos explicitamente eurocêntricos, como em seu famoso discurso Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos últimos três séculos (1871), mas também críticas à visão comum, percebidas na Europa da época, sobre o Budismo como uma religião “pessimista” ou uma “religião do nada”, conforme expresso em diversas missivas da década de 1880, entre elas a conhecida carta enviada a Maria Amália Vaz de Carvalho em 1886.
O contato de Antero com o Budismo se deu por meio de traduções de textos búdicos, bem como via pensamento de filósofos alemães como Schopenhauer e Eduard von Hartmann, cujas reflexões dialogam também com o Budismo.
Literariamente, Antero deixou sonetos que fazem referência direta ao Oriente e ao Budismo, entre os quais se destacam “Sonho Oriental”, “Nirvana” e a série de seis sonetos “Elogio da Morte”. Pesquisadores que se dedicaram a observar exclusivamente questão do Budismo em Antero, como Alves (2001) e Feitais (2007), encontram ainda aspectos da filosofia budista em outros sonetos anterianos, como “Divina Comédia”, “No Turbilhão”, “Contemplação”, “Voz Interior”, “Transcendentalismo”, entre outros. Entretanto, mesmo que a produção poética de Antero se torne diminuta na década de 1880, sua reflexão sobre o Budismo prossegue até sua morte. Desta forma, suas missivas, em especial sua carta autobiográfica a Wilhelm Storck (1887), e textos como Tendências Gerais da Filosofia da Segunda Metade do Século XIX (1890) são fundamentais para entender o papel da filosofia budista no conjunto do pensamento do poeta. O diálogo de Antero com o Budismo parece atingir seu ápice quando, em carta a Magalhães Lima datada de 2 de fevereiro de 1889, explica sua fórmula “Helenismo coroado por um Budismo” como expressão-resumo de sua filosofia de vida, que possibilitaria uma reforma moral ao homem europeu do final do século XIX. Esta reflexão expõe Antero como um sujeito que, aberto a uma forma de pensar não-europeia, absorveu elementos de uma filosofia oriental e utilizou-o para elaborar sua mundividência única. Neste sentido, pode-se afirmar que o poeta açoriano teve uma interação ímpar com o Budismo em seu tempo. É importante destacar que, até chegar nessa fórmula, o pensamento de Antero tentou desenvolver outros conceitos, como seu conhecido “misticismo ativo”, também com elementos incorporados a partir de suas leituras acerca do Budismo.
O pensamento filosófico de Antero despertou a curiosidade de muitos estudiosos a partir do século XX e, em maior ou menor grau, a influência do Budismo – ou da filosofia alemã que bebeu na fonte búdica – foi explorado por importantes nomes dos estudos anterianos, como Joaquim de Carvalho (1892-1948), António Sérgio (1883-1969) e Eduardo Lourenço (1923-2020). Entretanto, mesmo com admiradores e estudiosos, não se pode dizer que Antero teve discípulos, ao menos em relação à sua forma de interação com o Oriente.
J.C.V,
Bibliografia:
ALVES, Miguel Botão. 2001. Os Sonetos de Antero de Quental: uma leitura do Budismo indiano. Macau: Centro de Publicações da Universidade de Macau.
FEITAIS, Paulo. 2007. “Antero, Oliveira Martins e o Budismo” In O Buda e O Budismo no Ocidente e na Cultura Portuguesa, edited by Paulo Borges, Duarte Braga, 197-249. Lisboa: Ésquilo.
LIMA, Isabel Pires de. 1999. “O Orientalismo na Literatura Portuguesa (Séculos XIX e XX)” In O Orientalismo em Portugal, edited by Ana Maria Rodrigues, 145-160. Porto: Edifício da Alfândega.
QUEIROZ, Eça de. 2011. “Um Gênio que era um Santo”. In Edição Crítica das Obras de Eça de Queirós. Almanaques e outros dispersos, edited by Irene Fialho, 285-329. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
VANZELLI, José Carvalho. 2021. Portugal e o Oriente: Antero de Quental – Camilo Castelo Branco – Eça de Queirós – Pinheiro Chagas. Curitiba: Appris.
Ana Maria Amaro
AMARO, Ana Maria de Sousa Marques da Silva (Lisboa, 1929 – Lisboa, 2015), académica e investigadora cuja actividade incidiu sobre os Estudos de Macau e os Estudos Chineses.
Oriunda de Lisboa, Ana Maria Amaro frequentou os três primeiros anos da Licenciatura em Medicina de 1947 a 1950 e concluiu a Licenciatura em Ciências Biológicas, assim como o Curso de Ciências Pedagógicas, com a duração de um ano, em 1954. Foi viver para Macau em 1957. Tinha casado no ano anterior e acompanhava o seu marido, Fernando Amaro, que havia sido colocado no território como oficial miliciano e que aí assumiria nomeadamente as funções de ajudante de campo do Governador Jaime Silvério Marques (1959-1962) e de secretário do Governador Lopes dos Santos (1962-1966).
Durante a sua estadia em Macau, que decorreu até 1972, prosseguiu a actividade docente no Liceu Nacional Infante D. Henrique. Esta teve início em 1958 a título meramente eventual, sendo que no ano seguinte viria a surgir uma vaga para a qual a jovem licenciada concorreria e que viria a preencher. Tinha conhecimentos no ramo do ensino, adquiridos no Curso de Ciências Pedagógicas, assim como alguma experiência, tendo anteriormente dado explicações e leccionado no colégio da sua mãe. Ensinava agora Ciências Naturais, em virtude da sua formação, e ainda Geografia.
Sendo este o contexto, tinha em Macau, como expressamente referiria mais tarde, “tempo e motivação para investigar aquilo que não conhecia”, seguindo um “desejo de perceber onde estava” e de não se “sentir analfabeta e surda” em virtude do facto de “não saber ler nem compreender o que os chineses escreviam e diziam”.[1] Dedicou-se então à actividade de investigação, que incidiu inicialmente sobre a área da botânica, matéria do seu especial interesse no âmbito da sua formação universitária. Ao mesmo tempo, lançou-se na aprendizagem do chinês escrito e do cantonês falado.
Do seu trabalho no domínio da botânica, resultaram vários estudos publicados na década de 1960. O primeiro foi um artigo de 1961 intitulado “Relíquias Botânicas de Macau”, que através da análise de vestígios de plantas pretendia ser um contributo para a localização de casas antigas de famílias abastadas macaenses desaparecidas.[2] Um outro foi um “Catálogo provisório das espécies mais comuns da Flora de Macau”, que a autora decidira elaborar a partir da sua constatação da falta de herbários e de bibliografia actualizada.[3] Seguiram-se ainda três monografias, intituladas “Contribuição para o estudo da flora médica macaense”, “Espécies botânicas goesas da flora de Macau” e “Pun Tchoi” (Bonsai), publicadas entre 1965 e 1966.
O seu interesse por plantas conduziria ainda a um outro estudo, publicado em 1967, sobre o Jardim de Lou Lim Ieóc, o qual continha informação sobre a sua história e também um alerta para o facto de “o tempo e os homens, indiferentes ao misticismo e à beleza”, o estarem pouco a pouco a destruir.[4] O estudo surgia numa altura crítica em que o jardim estava em risco de destruição e substituição por edifícios de vários andares, estando situado numa zona central da cidade de Macau. Seria iniciado um processo de recuperação em 1972, ao tempo do Governador Nobre de Carvalho (1966-1974), ao qual não foi alheia a influência da investigadora,[5] tendo sido por sua iniciativa que o governo adquiriu aos herdeiros o jardim.[6]
Um outro foco natural da atenção de Ana Maria Amaro seriam as hortas periféricas de Macau, para o entendimento das quais a mesma teria um contacto intenso com a população que as trabalhava e que incluía refugiados de diversos pontos da China. Estas hortas viriam a constituir o objecto do seu trabalho final numa segunda licenciatura, em Ciências Antropológicas e Etnográficas, que prosseguiria após o seu regresso a Portugal. O texto, com o título “Prática Agrícola em Espaço Urbano, as Hortas de Macau”, apresentava a técnica chinesa no aproveitamento dos aterros salgados a partir de adjuvantes naturais.[7]
Sendo notória já nestes trabalhos incidentes sobre realidades naturais preocupações com dimensões humanas, a investigadora viria ainda a debruçar-se exclusivamente sobre questões etnográficas em variados outros estudos realizados a partir de meados da década de 1960. Entre eles seriam publicados alguns em Macau durante o período ainda da sua presença no território: Vendilhões Chineses de Macau em 1966, Alguns Aspectos do Artesanato em Macau e O Velho Templo de Kun Iâm em Macau em 1967, e Jogos, Brinquedos e outras Diversões de Macau em 1972.
De regresso a Portugal, Ana Maria Amaro voltou ao mundo académico. Inscreveu-se na Licenciatura em Ciências Antropológicas e Etnológicas no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade Técnica de Lisboa, que terminou em 1975. Frequentou, no ano seguinte, o primeiro ano da Licenciatura em Geografia. Finalmente, em 1991, doutorou-se em Antropologia / Etnologia (Civilizações Orientais) na Universidade Nova de Lisboa.
Neste quadro, veio a assumir funções docentes ao nível universitário no ISCSP, onde alcançou a categoria de Professora Catedrática Jubilada. Seria nesta segunda instituição que contribuiria sensivelmente para a divulgação em Portugal da cultura chinesa, e promoção da investigação sobre a mesma. Neste sentido, criaria em 1996, na Associação de Estudantes, um Curso de Língua e Cultura Chinesas, de três anos, estruturado com inspiração em programas curriculares da Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres (SOAS). Na sequência da conclusão do mesmo por um primeiro grupo de alunos, o curso passaria a ser integrado no ISCSP e coordenado por um órgão constituído para o efeito, O Centro de Estudos Chineses, que também organizava anualmente um congresso, intitulado Semana Cultural da China, e publicava os trabalhos nele apresentados, assim como outros de professores e alunos do Curso de Língua e Cultura Chinesas. As publicações foram múltiplas: O Mundo Chinês: um longo diálogo entre culturas (1998) e oito volumes de Estudos sobre a China (1999-2006). Em 2006, tendo sido extinto o Centro de Estudos Chineses, Ana Maria Amaro decidiria criar, para dar continuidade ao trabalho prosseguido durante uma década, o Instituto Português de Sinologia, cujos objectivos se aproximavam dos do Centro de Estudos Chineses, com um enfoque na divulgação da Língua e Cultura Chinesas, através de palestras, colóquios, exposições e workshops e a organização anual de fóruns internacionais.
A par de todas as suas actividades no mundo académico, Ana Maria Amaro continuou a escrever. Não tendo voltado a Macau depois de 1972, não cessou em todo o caso a sua produção de textos sobre Macau, cuja escrita se baseava no material que tinha recolhido e nas memórias que conservava. Uma temática presente de forma substancial nos seus textos era a cultura popular de Macau. Deu à estampa um conjunto de Adivinhas Populares de Macau, em 1974 e 1975-1976. No âmbito do lazer, publicou Um jogo africano de Macau: a chonca em 1980, Três Jogos Populares de Macau: Chonca, Talu, Bafá em 1984, “Jogos de cartas de Macau de tradição ibérica” em 1995, e a segunda parte de Jogos, Brinquedos e outras Diversões de Macau em 2011. Entre muitos outros textos, sobre temáticas mais ou menos amplas, destacam-se ainda Filhos da Terra, de 1988, uma análise sobre os macaenses do ponto de vista antropobiológico e cultural, que se debruça igualmente sobre a estrutura social deste grupo,[8] O Traje da Mulher Macaense: da Saraça ao Dó das Nhonhonha de Macau, de 1989, no qual é estudado o traje popular no âmbito da Antropologia do Simbólico,[9] e Das Cabanas de Palha às Torres de Betão: assim cresceu Macau, de 1998, uma investigação sobre o desenvolvimento urbano de Macau desde o estabelecimento dos portugueses até ao fim do século XX, em especial os principais factores que, ao longo dos quatrocentos anos de história de Macau, fizeram crescer a cidade.[10] Por seu lado, Aguarelas de Macau: 1960-1970, Cenas de Rua e Histórias de Vida, que foi impresso em 1998, é um livro com características próprias na medida em que narra memórias de Macau, histórias de vida reais em que apenas os nomes verdadeiros foram substituídos por ficcionados.
Contam-se entre os seus trabalhos sobre Macau algumas incursões no domínio da Medicina, que tinha constituído a sua primeira área de formação: “Alguns aspectos da Medicina Tradicional Chinesa” (1972), a tese de doutoramento com o título “Medicina popular de Macau: um processo de adaptação cultural” (1988), “O mal-de-ar na concepção popular de Macau” (1990), Introdução da Medicina Ocidental em Macau e as receitas de segredo da botica do Colégio de São Paulo (1992), “O sobrenatural na medicina popular de Macau” (2000), e “Influência da medicina tradicional chinesa nas mezinhas de casa das Nhonhonha de Macau” (2002). Significativamente, trata-se de trabalhos onde convergem as áreas das ciências naturais e sociais. Neste aspecto, são exemplificativos de um percurso ecléctico especial dentro do dos orientalistas portugueses, que se relaciona com o particular percurso de formação e de vida que teve.
A.B.
[1] “Macau é uma recordação agridoce”, 15-5-2015, http://macauantigo.blogspot.com/2015/05/macau-e-uma-recordacao-agridoce.html.
[2] “Novo livro de Ana Maria Amaro”, 22-6-2011, http://macauantigo.blogspot.com/2011/06/novo-livro-de-ana-maria-amaro.html.
[3] Ana Maria Amaro, “Catálogo provisório das espécies mais comuns da Flora de Macau”, separata do Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau, 1961-1962, [nota prévia], n.p.
[4] O Jardim de Lou Lim Ieóc, Macau: Imprensa Nacional, 1967, p. 44.
[5] “Macau é uma recordação agridoce”
[6] “Morreu Ana Maria Amaro, investigadora de Macau e da China”, Macau 澳門, Maio de 2015, https://www.revistamacau.com.mo/2015/05/15/morreu-ana-maria-amaro-investigadora-especializada-em-macau-e-civilizacao-chinesa/.
[7] “Macau é uma recordação agridoce”
[8] Ana Maria Amaro, Filhos da Terra, Macau: Instituto Cultural de Macau, 1988 p. 1.
[9] Ana Maria Amaro, O Traje da Mulher Macaense: da Saraça ao Dó das Nhonhonha de Macau, Macau: Instituto Cultural de Macau, 1989 p. 9.
[10] Ana Maria Amaro, Das Cabanas de Palha às Torres de Betão: assim cresceu Macau, Macau: Instituto Cultural de Macau, 1989 p. 15.
Manuel Pinheiro Chagas
Manuel Pinheiro Chagas nasceu em Lisboa em 1842 e faleceu na mesma cidade em 1895. De personalidade influente na sua época, destacou-se em diversas áreas, como parlamentar, Ministro da Marinha, membro do Conselho da Coroa e Membro do Conselho Superior de Instrução Pública. Contudo, a sua notoriedade na época se deu por conta de sua atuação como jornalista, romancista, poeta, cronista, teatrólogo, crítico literário, tradutor e historiador. Apesar disso, Pinheiro Chagas é mais conhecido nas histórias literárias pelas polêmicas em que se envolveu com a Geração de 70. A mais famosa foi a Questão Coimbrã (1865), deflagrada depois que Feliciano de Castilho teceu críticas a um livro do então jovem Antero de Quental, intitulado Odes Modernas, para enaltecer o Poema da Mocidade da obra de seu pupilo Pinheiro Chagas, como estratégia para reforçar a recomendação do poeta ao cargo de professor universitário. Posteriormente por permanecer em lados opostos, divergiu com Eça de Queirós, ficando estigmatizado pela crítica literária como escritor conservador e passadista.
Para além de ser um provocador injustiçado, Pinheiro Chagas é dono de uma obra multiforme, ainda pouco estudada. Seu projeto literário discute as causas da decadência portuguesa, por meio de um modelo literário que ele denominou de história dramatizada. É digno de menção que este autor ultrarromântico assinou mais de uma centena de escritos. Muitos deles ainda dispersos em periódicos ou revistas literárias, como o são as suas crônicas. No entanto, entre todos os seus títulos, os romances históricos foram os que mais alcançaram destaque.
As questões referentes ao orientalismo ganharam importância, para o escritor/historiador, quando houve a necessidade de se discutir o papel de Portugal diante de suas colônias, sobretudo a partir do traumático episódio do Ultimatum Inglês em 1890. Depois de Inglaterra ter desrespeitado os acordos da Conferência de Berlim de 1884 e, com o Ultimatum, ameaçado invadir territórios portugueses na África, caso não fossem contemplados seus interesses coloniais, colocando Portugal numa posição humilhante internacionalmente, Pinheiro Chagas lança obras como A D escoberta da Índia: C ontada por U m M arinheiro (1890), A M arquesa das Índias (1890), A Joia do V ice-rRei (1890) e O N aufrágio de Vicente Sodré (1892). Todos estes romances históricos, pertencentes à sua fase de maturidade autoral, enaltecem a colonização portuguesa na Ásia, assim como criticam por vezes a ineficácia das estratégias coloniais adotadas por Portugal.
A primeira obra consiste na narração de um personagem ficcional, o marinheiro Bastião Fernandes, sobre a sua travessia até às Índias. Embora haja um fascínio dessa personagem pelo chamado Oriente e suas lendas, ao considerar Goa como a “Lisboa indiana”, percebe-se o desejo de ocidentalizar o Oriente.
No romance histórico A M arquesa das Índias (1890), as personagens ficcionais estão no primeiro plano da narrativa e se envolvem num equívoco amoroso. Chagas discute a tomada da colônia por parte dos ingleses, que se deveu, segundo ele, às péssimas estratégias de colonização por parte de Portugal, o que seria algo recorrente. Para ele, o plano de Afonso Albuquerque fôra o mais sensato, ou seja, ocupar a Índia, de modo que houvesse a miscigenação entre portugueses e indianos. A tese de Chagas apoia-se no fato de a Índia Portuguesa ter uma civilização sólida que, certamente, seria uma resistência invencível em prol de Portugal diante das invasões de outros povos.
Em O N aufrágio de Vicente Sodré (1892), Chagas apresenta na introdução um estudo literário importante sobre o romance histórico romântico. Além disso, há um discurso anticlericalista bem delineado, quando se dramatiza o confronto entre um indiano e um bispo, demonstrando a superioridade do hinduísmo em relação às precariedades do catolicismo. Os poucos heróis portugueses, descritos no romance histórico em questão, foram insuficientes para manter a presença portuguesa nas Índias. Com tais críticas, não condena a empreitada colonial portuguesa; ao contrário, lamenta seu insucesso.
Em suma, Pinheiro Chagas apresenta em seus romances históricos, publicados entre 1890 e 1892, a representação de uma Índia como pano de fundo, como um espaço pitoresco e exótico para o desenrolar das peripécias e aventuras de suas personagens. O fascínio de Chagas pela cultura e paisagens orientais, a maneira como é imaginado esse espaço, demonstra a legitimação de seu discurso colonialista conservador. Além de ser um pensamento reacionário, seu lugar de fala é contraditório. Ao mesmo tempo que diz que deveria haver uma possível assimilação cultural entre ambas as partes, realça a superioridade e autoridade portuguesas no direito de colonizar. Portanto, ele é favorável à colonização portuguesa na Ásia, discordando somente dos fracassados métodos de dominação e desenvolvimento implementados pelos portugueses na Índia.
J.A.G