NUNES BARBOSA, Manuel (1818, Brasil – 1877, Lisboa), funcionário do Ministério da Guerra e arabista.
Oriundo do extinto Estado Maior Imperial (1834), passou a desempenhar funções no Ministério da Guerra. Em 1838 foi nomeado para frequentar aulas de língua árabe que seguiu sob orientação do Frei Manuel Rebelo da Silva durante três anos. Em 1842 foi enviado para Tânger a fim de aperfeiçoar os seus conhecimentos da língua e dos usos e costumes de Marrocos, estando subjacente a esta nomeação a intenção de o empregar como docente e intérprete. Simultaneamente, foi encarregue de apresentar relatórios sobre a situação política, militar e económica de Marrocos.
Nunes Barbosa permaneceu em Marrocos pouco mais de um ano e insatisfeito com o ensino local, foi autorizado a residir não só em diferentes partes de Marrocos, como também noutras paragens da Berberia como, na altura, se designava a região do Magrebe.
Em 1843, no seguimento da assinatura, por Portugal, do Tratado de Amizade, Paz e Navegação com o Império Otomano, Nunes Barbosa foi indigitado como Cônsul de Portugal naquele país, mas o débil estado de saúde não lhe permitiu aceitar este cargo.
Em 1845, Nunes Barbosa mudou-se para Oran, na Argélia, onde foi testemunha da guerra contra a invasão francesa, tendo deixado algumas observações sobre essa situação, conservadas conjuntamente com outros escritos seus, incluindo estudos gramaticais, textos rudimentares em árabe dialectal e algumas cartas, no espólio existente na Biblioteca Nacional de Portugal. Em Oran estudou com o arabista francês Edmond Combarel, bem como com mestres muçulmanos, dedicando-se, principalmente, ao estudo do árabe dialectal.
Demorou-se, durante algum tempo, na cidade de Argel (1847-1848) e, mais tarde, por motivos de saúde, em Gibraltar. Retornou a Oran, em 1852, para continuar os estudos do dialecto argelino, permanecendo aí até 1855, ano em que regressou definitivamente a Lisboa. Não obstante os muito bons conhecimentos de língua árabe clássica e dialectal que adquiriu e da sua familiarização com a complexa situação do Magrebe, não chegou a desempenhar nenhumas funções oficiais. O projecto de abertura de uma cadeira do Árabe dialectal para a qual Nunes Barbosa deveria preparar materiais didácticos não se concretizou, devido ao indeferimento do Conselho Superior de Instrução Publica, em 1856.
A trajectória de Nunes Barbosa ilustra a transição entre o “arabismo fradesco” e o “arabismo laico”, que em Portugal não chegou, contudo, a vingar por motivos de conjuntura política e económica.
E-M.v.K
Bibl.: PEREIRA, A.C. (1849 a), p. 359; SILVESTRE RIBEIRO, J. (1879), vol. VIII, p. 56 e 59; FIGANIER, J. (1945), p. 130; SIDARUS, A. (1986), p. 45; PEREIRA, R. (2004), pp. 143-154; MANSOURI, O. (2005), KEMNITZ, E-M. von (2010), pp. 412, 415, 417-419 e 437; Idem (2012), p. 166.