António Joaquim de Castro Feijó

FEIJÓ, António Joaquim de Castro (1859, Ponte de Lima – 1917, Estocolmo), cônsul, diplomata, poeta, tradutor.

Retrato do autor de Junho de 1899. “Photografia União” (Porto) da Casa Real Fonseca & C.ª
Retrato do autor de Junho de 1899.
“Photografia União” (Porto) da Casa Real Fonseca & C.ª

Oriundo de uma família aristocrática, A. Feijó cursou Direito na Universidade de Coimbra (1877-1883). Formou aí amizades que se estendem a Luís de Magalhães, Conde de Arnoso, Conde de Sabugosa, Eça de Queirós, Luís de Castro Osório, Alberto de Oliveira, Guerra Junqueiro, entre outros. Enveredou pela carreira diplomática, desempenhando funções consulares no Brasil (Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Pernambuco), entre Julho de 1886 e Dezembro de 1889. Em 1890, foi nomeado Cônsul-Geral de Portugal em Estocolmo, e, em 1901, foi promovido a Ministro Plenipotenciário nas cortes sueca e dinamarquesa.

Não sendo A. Feijó um orientalista, teve, contudo, um papel relevante na divulgação de uma estética literária orientalista e orientalizante, nas vertentes indiana, bíblica e, em particular, chinesa.

Absorveu as suas influências literárias e estéticas principalmente a partir de Paris, capital dos estudos orientais no século XIX e lugar de sucessivas Exposições Universais, que muito contribuíram para consolidar e/ou renovar o gosto europeu pelo exótico oriental. Essas influências permitiram-lhe apropriar-se de um imaginário designado como oriental, que A. Feijó reelaborou em diferentes fases da sua obra e que culminaria com Cancioneiro chinez (1.ª ed. 1890; 2.ª ed. 1903).

Reprodução das capas da primeira e da segunda edições de Cancioneiro chinez (1890 e 1903)
Reprodução das capas da primeira e da segunda edições de Cancioneiro chinez (1890 e 1903)

Cancioneiro chinez reúne um conjunto de poemas em verso rimado que saíram, quase na totalidade, no jornal portuense A Provincia, entre 1885 e 1887. Essas poesias são adaptadas de Le Livre de jade (1.ª ed. 1867, a que se seguiram novas edições: 1902, 1928, 1933), uma colecção de poemas em prosa traduzidos do Chinês para Francês por Judith Walter, pseudónimo de Judith Gautier (1845-1917), uma reputada orientalista, filha de Théophile Gautier (1811-1872).

Cancioneiro chinez é a primeira antologia de poesia clássica chinesa que se conhece em Portugal, embora traduzida a partir do Francês como língua intermédia. É, por isso, um marco importante na história do orientalismo literário em Portugal, explorando um imaginário habitado por figuras, paisagens, motivos e símbolos que se reconhecem como “chineses”, além de idealizar valorativamente o Império Celeste. É também o único texto literário do poeta a conhecer duas edições em vida do autor.

Já em Lyricas e bucolicas (1876-1883) (1884), A. Feijó incluíra pela primeira vez um “poema chinês” – “Sobre o rio Thchú (do poeta chinez Thu-Fú)” –, bem como o poema “O cravo murcho”, cujo imaginário poético não vai além de uma chinoiserie decorativa: “Como um cravo que murcha debruçado/Numa jarra fantástica da China.”

Uma outra colectânea anterior, Transfigurações (1882), colige poesias escritas de 1878 a 1882, entre as quais “Ahasverus” (1881), que a crítica tende a ler em paralelo com o poema “Antiguidade védica. Fragmentos dum poema inédito – A via dolorosa (epopeia da história)” (A Folha Nova, 4/11/1881), onde se manifesta o despontar do interesse do poeta pela diversidade humana e pelas suas origens, que, nesta fase inicial, se orientava para a civilização indiana.

Embora o impacto de Cancioneiro chinez na literatura portuguesa não seja fácil de determinar, são vários os diálogos intertextuais que se detectam na viragem do século: Idyllios chinezes (1897), do poeta brasileiro Luís Guimarães, Filho (1876-1940); Lei-San – Phantasia dramatica em um acto (1903), de Manuel Penteado (1874-1911), peça representada no Teatro D. Amélia a 31 de Março de 1903; e Lin-Tchi-Fá. Poesias do Extremo Oriente (1925), obra única de Maria Tamagnini (1900-1933).

Do ponto de vista temático do Oriente chinês, Cancioneiro chinez é único no repertório poético de A. Feijó. Apenas o poema “Vaso chinês”, que Álvaro Manuel Machado deu a conhecer em Sol de Inverno, seguido de vinte poesias inéditas (1981), retoma de modo explícito esse topos. Outros poemas há que glosam o Oriente sem se aterem à geografia poética da China, ficando pelo Oriente árabe, maioritariamente de inspiração bíblica (vejam-se, como exemplo, os poemas “Cleópatra”, “Moiro e cristã”, “A resposta do árabe” e “A vocação de Ibraim” [Sol de Inverno] ou “Oriental” [Brasil-Portugal, 1/7/1903]).

Em 1915, A. Feijó foi eleito sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras.

Os restos mortais do poeta foram trasladados em 1927, juntamente com os de sua mulher D. Maria Luísa Mercedes Joana Lewin (1878-1915), para Ponte de Lima.

Grande parte do seu espólio está no Arquivo Municipal de Ponte de Lima e tem sido estudado por J. Cândido Martins.

MPP

Bibl.: LOPES, A. C. (1972); MARTINS, J. C. (2004), pp. 7-30; PINTO, M. P. (2013); RAMOS, M. D. L. (2001).