CASTRO, Alberto Osório de (1868, Coimbra – 1946, Lisboa), juiz, poeta, tradutor, erudito, etnógrafo, arqueólogo e botânico.

Viveu a maior parte da sua vida nas colónias portuguesas: em Goa (1894-1907), onde foi Procurador da Coroa e Fazenda e Juiz de Direito. Em 1907, foi juiz de direito da comarca de Moçâmedes (Angola). No mesmo ano pede transferência para Timor. Em 1911, está na relação de Luanda, de onde se transfere em definitivo para a Metrópole.
Na Metrópole, participou e presidiu a instituições relacionadas com assuntos coloniais: membro da Comissão de Defesa das Províncias Ultramarinas (1927), Vice-presidente da União Portuguesa do Ultramar (1928), presidente do Conselho Superior Judiciário das Colónias (1931). Foi jurado do VIIº Concurso de Literatura Colonial (1933) e júri do concurso literário do S.P.N. (1934) que premiou, em segundo lugar, Mensagem de Fernando Pessoa.
Em termos políticos, foi Ministro da Justiça num dos governos de Sidónio Pais, em 1918. Desempenhou outros cargos durante a Ditadura Militar. Foi um dos membros do Partido Centrista Republicano e presidente da Direção do Centro/Grémio Centrista de Lisboa. Pertenceu também à Maçonaria, tendo fundado, em 1911, a Loja Oceania em Díli.
Osório de Castro é uma figura a ser recuperada nos estudos do Orientalismo português, antes de mais a nível académico-científico. Em Goa fundou a longeva revista científica O Oriente Português, que começou em 1907, e dirigiu a biblioteca de Nova Goa. Embora amador, como vários intelectuais do seu tempo, foi um respeitado membro da comunidade científica nacional e internacional, o que comprovam as suas obras literárias, cheias de erudição orientalista, os estudos científicos éditos e inéditos no âmbito das ciências humanas e naturais, bem como vasta correspondência trocada com outros orientalistas seus contemporâneos, entre outros, com David Lopes, Guilherme de Vasconcellos Abreu ou Angelo de Gubernatis. Dados como estes permitem entender a razão pela qual Camilo Pessanha, em resenha a Flores de Coral (1910), lhe atribuía uma “pouco vulgar cultura científica”.

Mas o Orientalismo, em Alberto Osório de Castro, é ao mesmo tempo científico e estético, dimensões muito intimamente ligadas. Desde o seu primeiro livro, Exiladas (1895) se encontram poemas que glosam elementos da erudição orientalista, como o teatro clássico indiano ou motivos estéticos nipónicos. De outra forma, faz a poesia conviver com a erudição e a investigação cientifica em livros como A Cinza dos Mirtos (Nova Goa, Imprensa Nacional, 1906) e Flores de Coral (Díli, Imprensa Nacional, 1909) que (para além dos poemas) incluem pautas musicais, gravuras de antigualhas indo-portuguesas, glossários, boletins, documentos, visando contaminar a poesia pelo saber enciclopédico. Em volume, publicou ainda o livro de versos O Sinal da Sombra (Lisboa, Clássica Editora, 1923) e o relato em prosa A Ilha Verde e Vermelha de Timor (Lisboa, Agência Geral das Colónias, 1943). Em 2004, a Imprensa Nacional-Casa da Moeda reuniu em dois volumes a sua obra poética, com estudo introdutório de José Carlos Seabra Pereira.

Num ambiente onde se cruzam diversas poéticas e estéticas (Decadentismo, Simbolismo, Parnasianismo, indícios de Modernismo), é um dos mais centrais criadores de um gosto moderno pelo “oriental” na poesia portuguesa da viragem do século, o que na prática lírica corresponde a geografias diversas: Índia, Pérsia, Egito, Insulíndia (Java e Timor), Japão e China. Um verdadeiro pan-orientalista, segundo a noção de Ian Hokenson em Japan, France, and East-West Aesthetics (2004).
Esta forte inscrição na produção literária do saber acerca do Oriente é de fato característica da obra de Osório de Castro, e constitui uma forma de tornar a poesia participativa na construção de um Orientalismo português. Segundo Braga (2014), a obra de Osório de Castro estrutura-se de acordo com um projeto global visando criar um moderno Orientalismo português intimamente ligado ao projeto colonial: ao mesmo tempo erudito-cientifico e estético-poético. Esta parece ser a grande originalidade deste autor esquecido, quer pelos manuais de literatura, quer pela ciência.
DDB
BIBLIOGRAFIA: BERNARDO (1971); BRAGA (2014); MARTINS (2008), p. 312; OLIVEIRA (1959); PEREIRA (2004); SILVEIRA (1968), p. 122; SOUSA (2010), pp. 285-326.