Alberto Franco Nogueira

Franco Nogueira, Alberto Marciano Gorjão (1918, Vila Franca de Xira – 1993, Lisboa), diplomata e político.

Filho de um juiz, Franco Nogueira passou parte da adolescência nos Açores, onde o pai esteve colocado, mas concluiu os seus estudos secundários em Lisboa. Seguindo as passadas do pai e do avô, inscreve-se na Faculdade de Direito da mesma cidade e licencia-se em 1940. No ano seguinte inicia a carreira diplomática, dentro da qual começa por exercer as funções de terceiro e segundo-secretário de legação na Secretaria de Estado do Ministério dos Negócios Estrangeiros, sendo colocado em Tóquio, onde fixa residência como Encarregado de Negócios e Delegado do Governo Português junto do Alto Comando Aliado (1946-1950).

O diário do primeiro ano dessa missão (escrito entre 6 de Janeiro e 26 de Dezembro de 1946) foi publicado postumamente, em 2019, com o título Tóquio – Diário, 1946. Escrito no período sensível que sucede a rendição japonesa após a II Guerra Mundial, o texto corresponde a um registo muito pessoal das impressões do país, sendo quase omissas as tarefas profissionais de que o seu autor se encontrava incumbido. É possível reconhecer no diário um esforço significativo de compreensão da sociedade e do quotidiano japonês, que passou também pela consulta de jornais nacionais escritos em língua inglesa, antes e depois da guerra. São aí relatadas as relações entre os japoneses e as forças de ocupação, os primeiros movimentos de inspiração democrática e também a ameaça que paira sobre grupos comunistas organizados. Mais focadas na descrição de aspectos etnográficos do Japão são as páginas que resultam de deslocações a Yokohama, Kamakura, Karuizawa ou Odawara, bem como as visitas a templos xintoístas e budistas.

Na vida privada haverá mudanças igualmente importantes nessa altura. No dia da sua chegada a Tóquio conhece a mulher com quem se viria a casar – Vera Machado Duarte Wang (1928-2018), filha de uma portuguesa e de um diplomata chinês. O matrimónio teve lugar na capital japonesa em 1947.

Terminada a primeira missão, e com um percurso internacional bem-sucedido, passa de Cônsul de 1.ª Classe (1953) a Cônsul-geral em Londres (1954). Apesar de não regressar à Ásia como diplomata, o trabalho que desenvolveria nos anos vindouros dá conta de um interesse crescente pela China – cuja realidade se torna agora mais próxima, por via do casamento –, onde em 1949 o comunismo se instalara. O seu posicionamento político-ideológico ia claramente no sentido oposto ao do novo regime chinês, considerando por isso fundamental conter a sua expansão, por forma a defender o Sudeste asiático e o resto do Extremo Oriente (cf. Lucena 2001, 870-871). Assumido o gosto pela escrita, publica a sua primeira monografia, A Luta pelo Oriente (1957) – decorrente de um trabalho prévio intitulado Política do Oriente (1952), redigido para efeitos de um concurso de carreira –, porventura a obra que melhor espelha a sua disposição orientalista. É nesta fase que ingressa na vida política, onde ascende ao cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros (1961-1968).

Enquanto Ministro enfrenta um período marcado pelo isolamento do país em matéria de política internacional, que procurará a todo o custo contrariar. Abraçando a ideologia do Estado Novo, Franco Nogueira será o principal rosto da defesa do “Ultramar português”. O seu ideal em termos de política externa assenta na apologia de um conceito de nação multicultural e plurirracial. O discurso presente em obras como O Terceiro Mundo (1967) ou Debate Singular (1970) procura mostrar que Portugal é uma nação constituída por parcelas geograficamente distantes, habitada por populações de origens étnicas diversas, mas unidas pelo mesmo sentimento e pela mesma cultura. Em linha com a proposta do sociólogo brasileiro Gilberto Freyre, o poder exercido nas províncias ultramarinas portuguesas não seria então de natureza colonial, ao contrário do que acontecia nos territórios sob soberania alheia.

O interesse pela China também não esmorece nesta fase. Fortemente implantada em África, a influência chinesa naquele continente constitui uma das condicionantes à margem de manobra da política colonial portuguesa. Embora a partir da década de 1960 surgissem sinais de um eventual reconhecimento da República Popular da China por parte de Portugal, a decisão final de Salazar vai no sentido inverso, decerto motivado por pressões políticas. Assim, em 1964, o Ministro Franco Nogueira toma medidas para suspender as relações diplomáticas com a República Popular da China (cf. Martins 2010, 250-255).

Com a morte de Salazar, acabaria por ser preterido na sucessão, tornando-se o líder do sector mais conservador da Assembleia Nacional. Bate-se então por uma política integracionista relativa ao Ultramar, posicionamento que irá manter até à revolução de 1974. Os anos que se seguiram foram de prisão e de exílio em Londres. Regressa a Portugal em 1981, assumindo as funções de professor em diferentes universidades privadas de Lisboa. Foi nesta cidade que veio a falecer, em 1993, pouco depois de escrever aquela que foi a sua última obra publicada em vida, Juízo Final (1992).

 

CATARINA NUNES DE ALMEIDA (CNA)

 

Bibliografia consultada:

Lucena, Manuel de. 2001. Franco Nogueira: os meandros de uma fidelidade. Análise Social vol. XXXVI (160): 863-891. Disponível em http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1218729444Y3aQE3ub5Qn57SA0.pdf (consultado a 12 de Julho de 2021).

Martins, Marco António. 2010. Franco Nogueira e o processo de reconhecimento da República Popular da China: uma perspectiva diplomática. Negócios Estrangeiros 18: 239-270. Disponível em http://dspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/2608/1/ArtigoNE18%20Marco%20Ant%C3%B3nio%20Martins.pdf (consultado a 12 de Julho de 2021).