Manuel Pinheiro Chagas

Manuel Pinheiro Chagas nasceu em Lisboa em 1842 e faleceu na mesma cidade em 1895. De personalidade influente na sua época, destacou-se em diversas áreas, como parlamentar, Ministro da Marinha, membro do Conselho da Coroa e Membro do Conselho Superior de Instrução Pública. Contudo, a sua notoriedade na época se deu por conta de sua atuação como jornalista, romancista, poeta, cronista, teatrólogo, crítico literário, tradutor e historiador. Apesar disso, Pinheiro Chagas é mais conhecido nas histórias literárias pelas polêmicas em que se envolveu com a Geração de 70. A mais famosa foi a Questão Coimbrã (1865), deflagrada depois que  Feliciano de Castilho teceu críticas a um livro do então jovem Antero de Quental, intitulado Odes Modernas, para enaltecer o Poema da Mocidade da obra de seu pupilo Pinheiro Chagas, como estratégia para reforçar a recomendação do poeta ao cargo de professor universitário. Posteriormente por permanecer em lados opostos, divergiu com Eça de Queirós, ficando estigmatizado pela crítica literária como escritor conservador e passadista.

Para além de ser um provocador injustiçado, Pinheiro Chagas é dono de uma obra multiforme, ainda pouco estudada. Seu projeto literário discute as causas da decadência portuguesa, por meio de um modelo literário que ele denominou de      história dramatizada. É digno de menção que este autor ultrarromântico assinou mais de uma centena de escritos. Muitos deles ainda dispersos em periódicos ou revistas literárias, como o      são as suas crônicas. No entanto, entre todos os seus títulos, os romances históricos foram os que mais alcançaram destaque.

As questões referentes ao orientalismo ganharam importância, para o escritor/historiador, quando houve a necessidade de se discutir o  papel de Portugal diante de suas colônias, sobretudo a partir do traumático episódio do Ultimatum Inglês em 1890. Depois de  Inglaterra ter desrespeitado os acordos da Conferência de Berlim de 1884 e, com o Ultimatum, ameaçado invadir territórios portugueses na África, caso não fossem contemplados seus interesses coloniais, colocando Portugal numa posição humilhante  internacionalmente, Pinheiro Chagas lança obras como A D     escoberta da Índia: C     ontada       por  U     m M     arinheiro (1890), A M     arquesa das Índias (1890), A Joia do V     ice-rRei (1890) e O N     aufrágio de Vicente Sodré (1892). Todos estes romances históricos, pertencentes à  sua fase de maturidade autoral, enaltecem a colonização portuguesa na Ásia, assim como criticam por vezes a ineficácia  das estratégias coloniais adotadas por Portugal.

A primeira obra consiste na narração de um personagem ficcional, o marinheiro Bastião Fernandes, sobre a sua travessia até às Índias. Embora haja um      fascínio       dessa personagem pelo chamado Oriente e suas lendas, ao considerar Goa como a “Lisboa indiana”, percebe-se o desejo de ocidentalizar o Oriente.

            No romance histórico A M     arquesa das Índias (1890), as personagens ficcionais estão no primeiro plano da narrativa e se envolvem num equívoco  amoroso. Chagas discute a tomada da colônia por parte dos ingleses, que se deveu, segundo ele, às péssimas estratégias de colonização por parte de Portugal, o que seria algo recorrente. Para ele, o plano de Afonso Albuquerque fôra o mais sensato, ou seja, ocupar a Índia, de modo que houvesse a miscigenação entre portugueses e indianos. A tese de Chagas apoia-se  no fato de a Índia Portuguesa ter uma civilização sólida que, certamente, seria uma resistência invencível em prol de Portugal diante das invasões de outros povos.

Em O N     aufrágio de Vicente Sodré (1892), Chagas apresenta na introdução um estudo literário importante sobre o romance histórico romântico. Além disso, há um discurso anticlericalista bem delineado, quando se dramatiza o confronto entre um indiano e um bispo, demonstrando a superioridade do hinduísmo em relação às precariedades do catolicismo. Os poucos heróis portugueses, descritos no romance histórico em questão, foram insuficientes para manter a presença portuguesa nas Índias. Com tais críticas, não condena a empreitada colonial portuguesa; ao contrário, lamenta seu insucesso.

Em suma, Pinheiro Chagas apresenta em seus romances históricos, publicados entre 1890 e 1892, a representação de uma Índia como pano de fundo, como um espaço pitoresco e exótico para o desenrolar das peripécias e aventuras de suas personagens. O fascínio de Chagas pela cultura e paisagens orientais, a maneira como é imaginado esse espaço, demonstra a legitimação de seu discurso colonialista conservador. Além de ser um pensamento reacionário, seu lugar de fala é contraditório. Ao mesmo tempo  que diz que deveria haver uma possível assimilação cultural entre ambas as partes, realça a superioridade e autoridade portuguesas no direito de colonizar. Portanto, ele é favorável à colonização portuguesa na Ásia, discordando somente dos fracassados métodos de dominação e desenvolvimento implementados pelos portugueses na Índia.

J.A.G

 

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