DIAS, Eduardo (1888, Lisboa – 1949, Lisboa), homem de negócios, jornalista, escritor e orientalista amador.
Viveu muitos anos no Rio de Janeiro, sendo secretário do Banco Português do Brasil (1918) e, mais tarde director (1924). Nesta cidade, fundou e dirigiu a Obra de Assistência aos Portugueses Desamparados. Foi orador convidado nas recepções oferecidas aos aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral (1922) e na recepção, no Real Gabinete Português de Leitura, ao Presidente da República Portuguesa, António José de Almeida (1924).
Interessado pelas civilizações orientais, empreendeu, com esse intuito, várias viagens, pela Europa e grande parte da América, assim como na antiga Índia Ocidental Holandesa e no Oriente Médio. Esse interesse materializou-se numa prolífica produção literária, abordando temas variados, desde história, literatura árabe e questões contemporâneas do mundo islâmico.
À história e cultura árabes dedicou: Árabes e Muçulmanos: As Leis e as Hostes de Mafoma (Vol. 1), (1940); Árabes e Muçulmanos: A Invasão da Hispânia e o aspecto cultural do Islamismo (Vol. 2), (1940) e Árabes e Muçulmanos: Greis Sarracenas e o Islão Contemporâneo (Vol. 3), (1940) e O Islão na India (1942), publicando ainda um artigo “Um Problema: O Islamismo e a sua Penetração na África Negra” (1946).
Não escritas por um académico, as suas publicações tiveram o mérito de divulgar junto do público português e em língua portuguesa, a problemática, principalmente conhecida através de publicações estrangeiras. O último estudo (1946), o mais original, abordou as questões de actualidade, chamando atenção para a ameaça islâmica representada pela sua doutrina de jihad (p. 239).
Do seu interesse pela literatura árabe resultou a publicação de uma tradução de uma antologia dos contos de Mil e uma Noites, em 6 volumes (1943-1944). No “Prefácio” Eduardo Dias assumiu-se como tradutor e, simultaneamente, como censor, referindo que o processo de tradução teve como objectivo mostrar “em forma acessível ao gosto europeu, a mais atraente substância de As Mil e Uma Noites” adequado “ao gosto e moralidade dos seus leitores”. Seguiram-se Antar o Cavaleiro-Mor: Romance Epopeia da velha Arábia (1941); O Coelho Matreiro: Fábulas Orientais (1941); Harém: Contos e Ditos Muçulmanos (1942) e O Anel Mágico e outros contos (1943).
Além disso, foi autor de um livro de viagens: Cores do Mundo (1936 e 2ª ed. 1937), a sua estreia como escritor, em que consignou as suas impressões da viagem pelo Mediterrâneo, descrevendo a Síria, o Líbano e o Egipto. Escreveu ainda sobre presença portuguesa no Brasil e na Índia: Memórias de Forasteiros: Aquém e Além-Mar: Portugal, África e Índia séculos XII-XVI (1945), (Vol. 1), (em co-autoria com o escritor Rodrigues Cavalheiro); Memórias de Forasteiros: Aquém e Além-Mar: Brasil séculos XVI-XVIII (1945), (Vol. 2); Memórias de Forasteiros: Aquém e Além-Mar: Brasil século XIX (1946), (Vol. 3) e ainda A Terra de Vera Cruz na Era de Quinhentos (1949).
Manteve contactos com vários intelectuais portugueses e brasileiros, entre outros, com o filólogo e arabista português, José Pedro Machado. Foi agraciado com o grau de Cavaleiro da Ordem de Cristo (1924) pelo então Presidente da República Portuguesa.
E-M.v.K
Bibl.: Portugal (1924), Revista quinzenal ilustrada, de 15 de Fevereiro, Ano I, nº 13, p. XLIII, Rio de Janeiro; Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira (1936-1960), Vol. VIII, p. 933; Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura (s/d), vol. VI, p. 1294; GARCIA DOMINGUES, J. D. (1959), pp. 23, 29-30; GOMES, J. P.(1991), p. 345; HERTEL, P. (2012), p. 134; “Eduardo Dias faleceu esta madrugada”, Diário de Lisboa, 8 de Outubro de 1949, p. 11; “Necrologia – Eduardo Dias”, Diário Popular, 8 de Outubro de 1949, p. 5.