DIAS, Francisco Xavier Paulino (1874, Santa Cruz – 1919, Nova Goa/Pangim), poeta, intelectual, professor, farmacêutico e médico goês católico.
Formado na Escola Médico-Cirúrgica de Nova Goa, foi médico e professor liceal nessa cidade (hoje Pangim): na Escola Normal, no Instituto Comercial e no Liceu Afonso de Albuquerque. Há indicações de ter sido também artista plástico e, ao que parece, músico. Dono de uma drogaria em Pangim, aí produzia fármacos. Morreu em 1919, de um ataque de febre, em Pangim.
Figura hoje pouco mais do que desconhecida, Paulino Dias escreveu abundante poesia em língua portuguesa e francesa. Muitas das suas publicações (incluindo o livro Vishnulal, de 1919), são assinadas também com o pseudónimo sânscrito Priti Das (variante de Pri Das ou Pritidassa), “Escravo do Amor”. Com maior recorrência assinou sob este nome a obra de temática “indianista”, isto é, que promove um culto da civilização indiana védica, clássica e medieval. Encontramos neste autor, embora ainda nos seus primórdios em Goa, um já bastante sofisticado nacionalismo cultural indiano.
Em termos de saber orientalista, seria limitado considerarmos apenas os artigos sobre Krishna e Buda publicados na revista Luz do Oriente (1915-1916), ou as suas traduções do Mahābhārata, do Guita e do Rig Veda. Todos os seus longuíssimos poemas dramáticos constituem verdadeiras exposições de saber orientalista, cheios de livrescas referências às mais obscuras divindades do Hinduísmo, o que denuncia um forte investimento erudito, além da mediação do saber orientalista europeu.
Os temas clássicos mitológicos, retirados das epopeias e da literatura védica e pós-védica, serão o grande distintivo da sua escrita poético-dramática bem como a releitura dos textos sagrados da literatura bramânica.
Há também já uma tomada de posição face a temas-chave do orientalismo indológico oitocentista, como o da submissão, in illo tempore, dos Drávidas aos Arianos. Aderindo a esta leitura, parece contudo tomar partido, no poema dramático Indra (1935, póstumo), pelos Drávidas e seus deuses antigos, pintando os deuses do bramanismo clássico como divindades da guerra, movidos por paixões e pela violência, no que se articula com uma crítica à violência do sistema castista, que é na verdade abundante na sua obra (BRAGA, 2020).
D.D.B.
BRAGA, Duarte Drumond, ed. (2020), Obra Reunida de Paulino Dias, São Paulo, Alameda.